segunda-feira, 15 de junho de 2009

Inspirada no espetáculo, Nathalia Queiroz escreveu...

Leve
Foi preciso sentir saudade. Abri-te a janela para ver-te azul cintilante. Fechar os olhos para desenhar-te em pálpebras, teu perfil perfeito. Foi preciso sentir saudade. Ficar distante. Outra cidade. Foi preciso um matar de tempo, qualquer outro canto, outra língua. Um pouco de isolamento e ver-te mais perto ainda. Foi preciso mergulhar outros ares. Apnéia, ares profundos. Desbravar qualquer outra parte, nadar outros mares, outros mares, costurar pele, arrancar vícios, desatar-se, foi preciso um espaço enorme. Foi preciso ensaiar fuga, construir redoma, enfeitar paredes. Foi preciso tecidos e luzes, inventar beleza que sustentasse tua ausência. Foi preciso uma força enorme.Foi preciso uma dor gigante, fazer-se errante, um olhar um tão vago. Qualquer coisa, sem teu abraço. Um canto que não fosse meu. Um jeito que não fosse eu. Um corpo que não fosse tu, para eu fechar meus olhos e desenhar-te em minhas pálpebras, teu perfil perfeito. Foi preciso um estar não estando. E fazendo um fazer não tão fácil. Um andar que nem sempre preciso. Um falar muito mais quando calo. Foi preciso uma força com suspiro de impulso. Uma força enorme. Qualquer outro canto. Outra língua. Um espaço enorme para sonhar-te. Abrir-te janela, ver-te, azul cintilante. Foi preciso ficar distante. Foi preciso fazer-se à parte, para que se fizesse urgente matar saudade.

5 comentários:

  1. Nathalia...
    seja muito bem vinda!
    sinta-se em casa e escreva quando quiser.
    cheiro grande
    obrigada!

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  2. Não conheço a Nathalia, mas este texto me deixou a beira do choro.

    Apenas tive uma perda marcante em minha vida, (minha avó), mas foi a perda. Lembro-me do peso que ainda hoje sinto e reverbera aos domingos quando me percebo sem destino, sem o almoço e sem o bolo de chocolate nos fins de tarde...

    Foi preciso a anestesia para que eu conseguisse dormir depois de dois dias em choro profundo. Desacreditei em Deus por um momento, desacreditei em mim e na vida. Como pode DEUS levar assim minha metade?

    "Leve" me lembra vovó, o dia antes da partida.

    Tirei a parte pesada ao ver vocês duas em cena. Choro que vem e me faz sentir que esta tudo como deveria estar.

    Ela esta bem.

    " se essa moça brinca o tempo passa e não tem mais como voltar"

    "sinta o peso quando for cair em si"

    "vamos nós para o infinito"...

    Quero dizer que esta música tem efeito colateral sobre mim: lágrimas...

    bjssss e adoro vcs

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  3. eita. Jana....
    ui!
    nem sei muito o que dizer... se tu tivesse aqui pertinho de mim... te abraçava.
    obrigada pela partilha...
    cheiro grande
    te adoro também,
    Moça.

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  4. queria dizer a vocês que esse espetáculo mexeu muito comigo.
    já faz algum tempo que vi, no Apolo, por indicação de Lili e foi realmente emocionante e desde então, divulgo como posso.
    e esse texto inspirado no espetáculo é outra obra de arte.
    parabéns, meninas.
    a leveza das palavras, dos movimentos, da música dá a perfeita tradução do nome.
    lindo.

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