quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Lamento sem Música

LAMENTO SEM MÚSICA
(Edna St. Vincent Millay)
Não estou conformada com o encerramento na terra de corações
apaixonados.
Assim é e será pois sempre foi, em qualquer época passada.
Vão para a sombra, os sábios, os amáveis.
Coroados
Com lírios e louros; mas eu não estou conformada.

O amante, o pensador, na terra com eles você se confundiu.
Na bruta e promíscua poeira, com o corpo dos outros, o seu.
Um fragmento do que você soube, do que você sentiu,
Uma fórmula, uma frase, ficam; mas o melhor se perdeu.

A resposta arguta, o olhar honesto, o riso perfeito
- Perdidos. Foram alimentar as rosas. Elegante, ondulado se
descerra

O canteiro. Fragrante, os canteiros. Eu sei. Mas não aceito.
Mais preciosa era a luz dos seus olhos que todas as rosas da terra.

Para baixo, para baixo, para o túmulo penumbroso,
Vão gentilmente o belo, o terno, o delicado,
Gentilmente o inteligente, o esperto, o valoroso.
Eu sei. Mas não Aceito. E não estou conformada.

(postado por Maria Agrelli)

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

atividades 05 a 12/01

05/01/2009

Determinação dos sentimentos envolvidos com a morte: medo, saudade, raiva, perda, vazio, força, impotência, dor, alívio, angústia, desespero.

06/01/2009

Foram trabalhadas as sensações de perda e vazio e criaram-se células coreográficas. Surgiram metáforas de corpo e movimento para a perda: cabeça para baixo e náusea, além da queda.

07/01/2009

A partir do livro Do jeito delas: vozes femininas de língua inglesa (organização de: Carlos Eduardo Fialho, Sueli Cavendish e Marcia Cavendish Wanderley e tradução de: JorgeWanderley), especificamente, foram “recortadas” frases do poema “Lamento sem música”, de Edna St. Vincent Millay: Pela bailarina Renata Muniz, foi destacado o verso “Eu sei. Eu não aceito. E não estou conformada” (relacionado à raiva) e pela bailarina Maria Agrelli o verso “Foram alimentar as rosas” (relacionado a saudade, generosidade e amor).

08/01/2009

Foram trabalhadas a náusea (da perda), com movimentos circulatórios e a queda (também relacionada à perda) com movimentos de saída do eixo de equilíbrio.

09/01/2009

Intenso trabalho corporal com as quedas (noção de perda). Trabalho em dupla, por meio de manipulação de partes do corpo. Sensação de abandono.
A partir desse exercício surgiu uma movimentação de quedas pela perda da força.

12/01/2009

Exercício em dupla.

(postado por Renata Pimentel)

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Ode XI

Levarás contigo
Meus olhos tão velhos?
Ah, deixa-os comigo.
De que te servirão?

Levarás contigo
Minha boca e ouvidos?
Ah, deixa-os comigo
Degustei, ouvi
Tudo o que conheces
Coisas tão antigas.

Levarás contigo
Meu exato nariz?
Ah, deixa-o comigo
Aspirou, torceu-se
Insignificante, mas meu.

E minha voz e cantiga?
Meu verso, meu dom
De poesia, sortilégio, vida?
Ah, leva-os contigo.
Por mim.

(Hilda Hilst, Da morte, odes mínimas. São Paulo: Globo, 2003, p.39)

Pelos olhos de Hilda, a morte tem tantos nomes, insuspeitos. É inquieta fonte de versos que enternecem, doem, assustam pela força, pelo lírismo, pelas imagens. Inusitadas, tantas vezes.
Na "barganha" com a morte, em diálogo, a voz poética alude a tudo de si (corpo físico) que a morte levará, quando se instaurar naquela matéria humana: olhos, boca e ouvidos, nariz... nos quais guarda o homem as lembranças pelas sensações, imagens, cheiros, sons; as coisas tão antigas que a morte tão bem já conhece. Mas o dom da poesia, a voz e a cantiga, os versos e sortilégios, a própria vida, "por mim", ou seja, pela própria poeta, é pedido que sejam esses os "troféus" que leve consigo a morte, pois assim o poeta permanece... Será? Um caminho possível de leitura.

(postado por Renata Pimentel)

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Morte - José de Anchieta Corrêa

"Só quando a morte leva alguém que amamos é que somos submersos pela violência da perda e mergulhados nas trevas da dor e da tristeza. A morte do outro - próximo ou amado - acorda em nós o horror desse absurdo, desse indizível, e então nos imerge na dor e nos cobre de luto.

Por essas vias, o real da morte é, por obrigação, por toda parte encoberto e velado. Os atingidos diretamente pelo drama logo são obrigados a se ocupar com tarefas burocrático-administrativas e a cumprir ritos e regras que acabam por lhes diatrair da presença do corpo que não mais responde às perguntas que lhe são dirigidas. Diante desse corpo rígido e frio, no caixão cercado de velas, é preciso contenção e recolhimento. Não bastasse esse doloroso exercício, é também necessário dar atenção a tantas mãos que tocam os que velam o defunto e dar ouvido a votos protocolares de consolo. Se a vista se estende mais longe, o que se vê é o burburinho dos amigos e conhecidos presentes em uma animada tagarelice, estratagema que livra os vivos de se converterem à cena da morte ali presente.

Na volta para casa, na solidão, poder-se-á então chorar a perda do ente que se foi. Mesmo assim, é de bom-tom fazê-lo discretamente, pois não se deve incomodar os amigos e os vizinhos. E a vida continua. Esse ocultamento ou recalcamento pessoal e social da morte cobra um preço extremamente elevado para os homens de nosso tempo, impedindo-os de desvelar as paixões profundas que emergem desse inusitado e universal acontecimento. Daí, para muitos resultam sintomas de neurose, manifestação de desespero e mesmo sentimentos de violência contra a vida. Para outros, a saída é recorrer e se abrigar no mundo dos mitos e da magia.

Sendo o homem sempre surpreendido pela morte, ela acontece quando menos se espera. Esta aparente e estranha circunstância faz dela o 'hóspede inquietante de todas as festas da vida', razão pela qual importa menos conhecer seu caráter inelutável e fatal do que compreender seu laço com a vida, descobrindo que nossas concepções de vida e de morte se intercambiam e nos convidam a conhecer simultaneamente a morte para o homem e o homem para a morte."
(CORRÊA, José de Anchieta. Morte. São Paulo: Globo, 2008. pp 18-20.)

(postado por Renata Pimentel)

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Preparação para a morte

Ou, e por falar em Manuel Bandeira... Alguns de seus versos:


Manuel Bandeira : Preparação para a morte

A vida é um milagre.
Cada flor,
Com sua forma, sua cor, seu aroma,
Cada flor é um milagre.
Cada pássaro,
Com sua plumagem, seu vôo, seu canto,
Cada pássaro é um milagre.
O espaço, infinito,
O espaço é um milagre.
A memória é um milagre.
A consciência é um milagre.
Tudo é milagre.
Tudo, menos a morte.
– Bendita a morte, que é o fim de todos os milagres.

(postado por Renata Pimentel)

Nascendo "Leve" para a morte

- Vim dar-te uma notícia... Como fazê-lo?
(Qual o eufemismo, qual a metáfora que poderia suavizar a comunicação a alguém que aqui resta vivente de que um ente querido não mais estará acessível, sob a forma de contato que conhecemos, em vida?)
- Digo-te que teu pai, mãe, irmã(o), parente, consorte, amigo(a) se foi... Não está mais entre nós... Partiu... Descansou... Está em melhor lugar que nós agora... Está em paz...

Não te grito ou escando as sílabas, simplesmente, declarando: MOR-REU! Os véus que encobrem algo do qual não podemos escapar, que é lidar com a morte, parece ser o disfarce do gato, escondendo-se e sempre deixando a ponta da cauda visível. Inescapável experiência que a todos nós cabe em um dado momento: a morte. Como lidar com ela: a "iniludível", a "indesejada das gentes", no dizer de Manuel Bandeira. O poeta que viveu, ele mesmo, 82 anos sob a égide de uma suposta iminente morte precoce, apenas concretizada várias décadas depois da ameaça fatal.

Apenas quem perdeu de si um ente querido saberá o que é a experiência da morte? Se ao nascermos, já começamos nosso percurso em direção a ela, em verdade, a morte é uma nossa companheira durante toda a vida: duplos de uma mesma moeda

E como dançar a morte? Como fazer o corpo mover-se, invocando o que em si marcou a perda, a dor, a saudade, o medo, o vazio, a raiva, a impotência, a angústia, o desespero, ou mesmo o alívio e a força que confluem, alternam-se, mesclam-se no enfrentamento do morrer?

É desse rio caudaloso de experiências que nasce o desejo, a pulsão, a concepção e o material de pesquisa do espetáculo "Leve".

(postado por Renata Pimentel)