quarta-feira, 20 de maio de 2009


1º de maio - dia de trabalho bem proveitoso.
Neste ensaio apresentemos o espetáculo em processo de finalização.
Quase toda a equipe estava presente...

*até Luquinhas estava lá, lindoo!

da esquerda para direita, de cima para baixo:

1 Maria e Renata
2 com Clara Camarotti
3 com Adriana Milet
4 com Renata Pimentel
5 com Isaar França
6 com Valéria Vicente e luquinhas!

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Sobre a trilha

No começo dos estudos de movimento e corpo da dupla Maria Agrelli e Renata Muniz, me veio imediatamente a sonoridade da dupla violoncelo e rabeca. No sábado chuvoso de Zé Pereira vieram as primeiras melodias registradas no celular. Depois convidei o músico e amigo Lito Viana, com quem trabalho há 04 anos e mostrei o que tinha feito. A função de Lito seria intermediar na comunicação com os outros músicos por conta da minha linguagem musical pouco convencional. Gravamos as músicas com voz e violão num MD e depois passei pra CD para apresentar às meninas que imediatamente fizeram seus comentários. Com esse material, a dupla desenvolveu melhor o espetáculo e definiu tempos e marcações.

A parte da pesquisa se deu por conta das excelências. Os lamentos cantados nos velórios, no sertão nordestino. Fui pedir ajuda a Renato Phaelante, na Fundação Joaquim Nabuco, em Apipucos. Das várias excelências que ouvi, todas são explicitamente católicas e a trilha não deveria conter nada que remetesse diretamente a nenhuma verdade religiosa. Também, as gravações não tinham qualidade para serem reproduzidas na forma original. Mas o sentido de cantar para o morto é que é o mais importante. Daí, ouvi as excelências e criei a partir delas a música de abertura do espetáculo.

Mas ainda faltava uma peça importante para o encerramento da trilha. Deveria ser uma música que tratasse o tema de uma forma leve e positiva. Foi quando ouvi pela primeira vez a música da sergipana Patrícia Polayne “Para o Infinito”. Senti que era exatamente o sentido do espetáculo. Para esta música pensei na banda que me acompanha; Sid3, Gabriel Melo e Lito Viana.

Depois disso eu convoquei os outros músicos João do Cello e Cláudio Rabeca. Assistimos juntos ao ensaio. O violão de Lito, muito presente na primeira gravação, não conseguiu ficar de fora. No momento, estamos nos preparando para a gravação.

Escrito por Isaar França



sexta-feira, 15 de maio de 2009

Estreia de LEVE



Estreia do espetáculo de dança - LEVE

Dia 05 de junho de 2009
Teatro Hermilo Borba Filho
às 20h30
O espetáculo ficará em temporada de sexta a domingo,
nos dias:
05, 06, 07,
12, 13, 14,
27, 28 e 29 de junho de 2009.

preço único R$ 5,00

quinta-feira, 14 de maio de 2009

FIGURINO

A concepção do figurino de LEVE, inicialmente, partiu da pesquisa da indumentária das carpideiras, mulheres que choram e cantam em homenagem ao morto.
Aos poucos, a pesquisa teórica foi ganhando forma, e o figurino foi sendo repensado para se ajustar às novas idéias.
A dúvida era como o figurino poderia dialogar com o espetáculo, somado a elementos de leveza, fluidez, que tivesse movimento - sem prejudicar a movimentação das bailarinas, e que o gênero feminino permanecesse em evidência. Surgiu a idéia de trabalhar desenhos de tubos em cima do corpo humano, usar as marcas já aparentes das veias e ressaltá-las na malha cor de pele, a base do figurino, e nos vestidos.
De maneira sutil, os desenhos e aplicações das “veias” fazem parte do figurino apenas para fazer alusão ao corpo humano, para “brincar” um pouco com a imaginação do público. Os tubos ora são veias, ora são raízes e galhos.

A criação do figurino é de Maria Agrelli, confeccionado por Maria Lima, e teve uma grande e fundamental ajuda de Marcondes Lima, Renata Muniz e Liana Gesteira.

Postado por Maria Agrelli

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Um breve relatório Leve

Se vamos fazer um histórico de como surgiu a ideia primeira do espetáculo, é preciso retornarmos a uma perda real, primeva e muito decisiva: quando partiu a mãe de Maria Agrelli, uma das bailarinas e criadoras de Leve.
Eis que no Reveillon de 2007 para 2008, em conversa com sua amiga e parceira na dança, Renata Muniz, esta revelou a Maria sua não aceitação de tal perda. Um processo criativo, na linguagem que lhes é própria (o corpo e a dança), foi o caminho que escolheram para a purgação de tais sentimentos e experiências que circundam a perda de um ente querido.
Percebendo-se que acompanhar uma agonia de morte é um exercício de desapego, a criação de um espetáculo de dança cuja pesquisa corporal traduz os sentimentos envolvidos nesse processo da morte foi a escolha das bailarinas.
O centro criativo, então, que norteou todo o espetáculo foram os sentimentos que circundam a perda. A partir deles, as bailarinas tentam traduzir – através de laboratórios e exercícios de criação física – no corpo (por meio de metáforas corporais: a cabeça invertida, ou seja, o corpo de ponta-cabeça; as quedas; as náuseas; as buscas e perdas de apoios para os movimentos; os encaizes entre os corpos uma da outra) a morte e apontar para caminhos em que esse processo possa ser vivido (a vida é o contraponto da morte) de forma leve.
O espetáculo busca uma via menos densa, menos agônica, menos violentamente inconformada, apesar de todas essas sensações serem parte do percurso inevitável, tantas vezes, para aqueles que acompanham o desenlace de uma vida rumo a seu término.
Foram feitas pesquisas teóricas em diversas vertentes do saber e sob variadas abordagens: filosófica, cultural (rituais e simbologias), religiosa, histórica, socioantropológica, biológica, médica e estética (poesia e música, sobretudo), não só para se embasar o conhecimento sobre o assunto, mas para se tentarem buscar outros guias, outros caminhos de criação. Vários poemas e músicas foram pontos de partida para os execícios de criação de movimentos. E os sentimentos sempre se reafirmavam como a via possível e autêntica para a criação deste espetáculo.
Entre as leituras, destacou-se a do livro Morte e desenvolvimento humano, de Maria Júlia Kovács; além de alguns filmes, entre os quais destacamos:
Abril despedaçado (sobretudo para a cenografia);
Il y a longtemps que je t’aime;
Invasões bárbaras ;
Do Nascimento à morte (documentário da Superinteressante);
Wit, com Emma Thompson;

Além disso, as reuniões no Gaapac permitiram a troca de experiências com pessoas portadoras de câncer (que experienciam a morte) e parentes e amigos dessas e a imersão na atmosfera de luto e enfrentamento com a iminência possível de falecimento; tanto pela própria vítima da doença, como por aqueles que a cercam. Afinal, de fato, a morte pode nos chegar sem aviso, de surpresa, mas há também um face sua que é a da agonia anunciada (quando de uma doença fatal ou de velhice). Mais uma vez, o trabalho com o Gaapac confirmou que o caminho de criação deste espetáculo era o do sentimento. Cenário, figurino, música, luz e dança: tudo partiu dos sentimentos.
Há que se destacar, ainda, a importantíssima contribuição de alguns membros da equipe de criação que apoiou e contribuiu com as bailarinas Maria Agrelli e Renata Muniz. Uma fundamental participação foi a da preparação corporal a cargo de Liana Gesteira. Lilica, como é chamada pelos membros da equipe de criação, com sua maneira peculiar e generosa de conduzir a preparação corporal – indo além de exercícios de alongamento, aquecimento – para gerar exercícios criativos, soube (de forma lúdica) jogar com as tensões, os temores, as travas que o processo impunha às bailarinas e apontou muitos dos rumos pelos quais o espetáculo enveredou. Eram jogos propostos por Liana que fizeram as bailarinas quebrarem os resíduos e referências de movimentação e dança implantados em seus corpos e impulsionaram-nas a outras sentidos e outra movimentação. Foi, então, o trabalho e a presença de Lilica um fundamental elemento de leveza no processo de criação.
Já a dramaturgista corporal, Valéria Vicente (além de bailarina, pesquisadora teórica e professora em dança) foi o contraponto, o “incômodo” necessário para desafiar, suscitar o debate e gerar as convicções de escolhas e caminhos eleitos pelas bailarinas no processo criativo.
Quanto a outros integrantes do processo de criação, destaque-se ainda a generosidade de Isaar França - e seu imenso talento - em deixar sua criatividade musical, sua voz e seu universo de referências traduzirem os desejos e movimentos de Maria e Renata. Ainda, as cenografistas (Lu de Mari e Isabela Aragão) concorrem para “vestir” o palco e amalgamar a funcionalidade do espaço em diálogo com a dança; o que é completado pela luz de Luciana Raposo, aspectos desenvolvidos em procsesso e que ganham sua vida própria como coadjuvantes em cena.

(postado por Renata Pimentel)

terça-feira, 12 de maio de 2009

um dia minha mãe morreu

Minha primeira postagem aqui no blog vem meio triste, envolta na semana em que completam cinco anos que minha mãe, Tereza Noronha, faleceu de repente. Segue a poesia escrita um ano depois:

Um dia minha mãe morreu
E foi como se ...
...
Uma mãe tivesse morrido

Morreu, assim, intransitivo
Levando peito, ventre, palavra de mãe
Saiu a terra dos meus pés, e o tempo ficou parado
como a imagem do céu azul enquanto o carro anda

lembro da surdez, do filme mudo que passava em tela panorâmica
lembro do calor, que invadiu minha cabeça
como se uma alma tivesse ali se condensado e saído de mim
da minha irmã sem forças nas pernas
do meu irmão tentando raciocinar
essa dor que não se compartilha, nem com os irmãos

Eu não sabia nada
Não havia metáfora, nem pista de como lidar
Havia o choro, como ainda há
E uma leve esperança de sobreviver.


Valéria Vicente

sábado, 9 de maio de 2009

Dizem que o tempo ameniza
Isto é faltar com a verdade
Dor real se fortalece
Como os músculos, com a idade

É um teste no sofrimento
Mas não o debelaria
Se o tempo fosse remédio
Nenhum mal existiria

Emily Dickinson

(postado por Nana)

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Sem amarras

(e assim foi, que um dia escrevi...)

a forma mais simples que me ocorre de expressar:
queria dizer com a maior precisão
sem que a metáfora abrisse mão de sua pessoal polissemia
eu queria
que se fizesse entender de múltiplo jeito
único
o que a falta de ti
em mim faz existir
uma morte devia ser fim
mas quando um se vai
ficam todos os outros
condenados a uma permanência

o que a tua ausência deixou em mim


o que a tua ausência deixou em mim
é a maior e melhor parte do que sou.

herança genética é somente razão

quero mesmo o saber de sentir,
que nem mesmo carece de explicação
apenas constata-se: é!


a forma mais simples que me ocorre de expressar:
é poder torcer a gramática
elastecer regras para caber
nelas o indizível
nelas o que não se pode medir
um diapasão que rompe os metros
um reverso de mim.

sorri de uma dor,
porque no meio há a lembrança
feliz e indecente
do dia em que aprendi:
a cada três passos meus
chegava em ti.

o abraço era a distância maior
entre a gente,
porque meu olho já te dizia:
mesmo quando fores
romperei peito e casca
crostas que nem sei ter
mas permanecerei em ti
que me levas e me deixas
te fazer seguir

(postado por Renata Pimentel)

PRESENÇA

É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas,
teu perfil exato e que, apenas, levemente,
o vento das horas ponha um frêmito em teus cabelos...
É preciso que a tua ausência trescale sutilmente, no ar,
a trevo machucado,as folhas de alecrim desde há muito guardadas
não se sabe por quem nalgum móvel antigo...
Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janela e respirar-te, azul e luminosa, no ar.
É preciso a saudade para eu sentir
como sinto - em mim - a presença misteriosa da vida...
Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevista
que nunca te pareces com o teu retrato...
E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te.

Mário Quintana

Essa vai pra minha duplinha Mary( com licença para usar a expressão da duplinha Lú e Ari).
postado por Renata Muniz

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Poemas de Alberto Caeiro

Heterônimo do poeta modernista português Fernando Pessoa, assim dizem da morte:

Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera
passada.
A realidade não precisa de mim.
Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma.
Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.
Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.
(7-11-1915)

Se, depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,
Não há nada mais simples.
Tem só duas datas – a da minha nascença e a da minha morte.
Entre uma e outra cousa todos os dias são meus.
Sou fácil de definir.
Vi como um danado.
Amei as cousas sem sentimentalidade nenhuma.
Nunca tive um desejo que não pudesse realizar, porque nunca ceguei.
Mesmo ouvir nunca foi para mim senão um acompanhamento de ver.
Compreendi que as cousas são reais e todas diferentes umas das outras;
Compreendi isto com os olhos, nunca com o pensamento.
Compreender isto com o pensamento seria achá-las todas iguais.

(postado por Renata Pimentel)

quarta-feira, 6 de maio de 2009

foto: Júlio Morais



















Parece um Sonho...

"Parece um sonho que ela tenha morrido!"
diziam todos... Sua viva imagem
tinha carne!... E ouvia-se, na aragem,
passar o frêmito do seu vestido...

E era como se ela houvesse partido
e logo fosse regressar da viagem...
- até que em nosso coração dorido
a Dor cravava o seu punhal selvagem!

Mas tua imagem, nosso amor, é agora
menos dos olhos, mais do coração.
Nossa saudade te sorri: não chora...

Mais perto estás de Deus, como um anjo querido.
E ao relembrar-te a gente diz, então:
"Parece um sonho que ela tenha vivido!"

Mário Quintana

sexta-feira, 1 de maio de 2009

os frutos do processo

hoje, em meio ao ensaio, em momento de uma passagem geral corrida do espetáculo em sua forma ainda não lapidada, em processo, com a equipe de criação praticamente toda reunida, sentada em torno das bailarinas (já como se em uma arena), enquanto assistia às bailarinas Maria Agrelli e Renata Muniz interpretando o que está criado para o espetáculo, e ponderando sobre novas decisões e escolhas - também ainda em transformação -, as palavras foram se configurando assim:

mesmo aguardado é
susto
desejo de suster
reverter o irrevogável

ar que não se move
sopro suspenso

procuro a voz
cheiro sinais
que prolonguem
aqui
um além

reverso

onde vivos seguem
dores alento saudade

quem morre
nem sempre
parte

todo dilacerado
em outra parte.

(postado por Renata Pimentel)