sexta-feira, 23 de outubro de 2009

LEVE no festival Na Onda da Dança


O espetáculo de dança Leve fará uma apresentação neste domingo (25/10) no festival na Onda da Dança, no SESC Piedade.

Divulguem!!!!!!


Serviço:
Espetáculo de dança Leve
Datas: 25 de outubro (domingo)
Hora: 19h30h
Local: SESC Piedade
Endereço: Av. Beira-mar s/n Praia de Venda Grande (entrada pela curva do SESC).

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

LEVE no Aldeia do Velho Chico

Estaremos apresentando leve, dentro da programacão do Aldeia do Velho Chico,
no Teatro do SESC em Petrolina - PE, no dia 05 de agosto às 20h30.
Além da apresentacão já estamos ministrando oficina de danca contemporânea.
A aula vai do alongamento, passa pela conscientizacão do corpo e da qualidade do movimento, até chegar na improvisacão. Tudo conectado às experiências vividas dentro do processo de leve, somada às aulas de Luiz Roberto e Liana Gesteira, nossos anjos da guarda.

Cheirooo

e aguardem o lancamento da trilha, em breve.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

LEVE no FIG


Nesta Quinta, dia 23, o espetáculo de dança Leve se apresentará em Garanhuns!!
Quem ainda não assistiu ao espetáculo e estiver por lá...
apareçam!!

Espetáculo de dança Leve no FIG

O trabalho transporta para a cena as sensações, os sentimentos e os questionamentos do ser humano diante da morte e foi criado sob a perspectiva de quem viveu a perda, a partir das vivências das criadoras-bailarinas Maria Agrelli e Renata Muniz. As sensações de impotência, saudade, dor, raiva, confusão, alívio se mesclam na cena do espetáculo, desvelados pelo corpo das bailarinas e pela atmosfera criada para este trabalho. O espetáculo foi viabilizado por meio do incentivo do Fundo de Incentivo a Cultura de Pernambuco, do governo estadual.

dia: 23 (quinta)
hora: 17h
local: Pavilhão de Dança, no Parque Euclides Dourado


confiram a programação!!
http://dancafig2009.blogspot.com/

domingo, 5 de julho de 2009

Leve permanece ecoando

... mesmo após encerrada a temporada de estreia do espetáculo, ainda nos chegam palavras, impressões, sentimentos de espectadores, como esta declaração a seguir:

"A leveza sobrepõe o pesado.
Nunca havia presenciado algo do tipo, tinha no pensamento um espetáculo de dança completamente diferente, uma apresentação de expressão corporal como tantas outras. No entanto, surpreendeu todas as minhas expectativas. Não era apenas um espetáculo de dança, era a apresentação de sentimentos diversos, misturados, que invadem o ser humano diante da morte, sensação que não se pode explicar: desepero, angústia, incerteza, raiva, dor, fragilidade, impotência, (des)conforto, solidão, saudade, esperança, alívio...
Um verdadeiro espetáculo de tudo aquilo que faz o homem. No início, leveza é o que menos se sente, mas no decorrer da dança a sensação de peso vai cada vez mais se desafogando, e a verdadeira intenção vai se percebendo, o desabafo do ser diante do natural e inaceitável momento da vida: a morte! A vida revela-se ao mundo como uma alegria. Há alegria no jogo eternamente variado dos seus matizes, na música das suas vozes, na dança dos seus movimentos. A morte não pode ser verdade, enquanto não desaparecer a alegria do coração do ser humano." (por Clara Laiz)

sábado, 27 de junho de 2009

Últimas apresentações do espetáculo de dança "LEVE"



O espetáculo de dança Leve faz suas últimas apresentações da temporada no Teatro Hermilo Borba Filho, neste fim de semana. O trabalho transporta para a cena as sensações, os sentimentos e os questionamentos do ser humano diante da morte. O trabalho foi criado sob a perspectiva de quem viveu a perda, a partir das vivências das criadoras-bailarinas Maria Agrelli e Renata Muniz. As sensações de impotência, saudade, dor, raiva, confusão, alívio se mesclam na cena do espetáculo, desvelados pelo corpo das bailarinas e pela atmosfera criada para este trabalho. O espetáculo foi viabilizado por meio do incentivo do Fundo de Incentivo a Cultura de Pernambuco, do governo estadual.


últimos dias: 26, 27 e 28 de junho de 2009 (sexta, sábado e domingo)
Hora: 20h30
Local: Teatro Hermilo Borba Filho
Endereço: Rua do Apolo, 121 – Recife Antigo
Ingresso: R$ 5,00



sexta-feira, 19 de junho de 2009

fim de semana EXTRA do espetáculo de dança "LEVE"

apresentações EXTRAS do espetáculo de dança "LEVE" neste final de semana

No Teatro Hermilo Borba Filho
nos dias 20 e 21 junho de 2009.
(sábado e domingo)
às 20h30
R$ 5,00.
informações:
91624795 - Adriana Milet
87545406 - Carminha Lins
3232-2030 - Teatro Hermilo

FICHA TÉCNICA:

Concepção, criação e coreografia - Maria Agrelli e Renata Muniz
Bailarinas - Maria Agrelli e Renata Muniz
Assistente de coreografia - Liana Gesteira
Consultora artística - Valéria Vicente
Preparação corporal - Liana Gesteira e Luiz Roberto da Silva
Pesquisa teórica e diário de criação - Renata Pimentel
Trilha sonora original - Isaar
Músicos - Lito Viana, João do Cello, Cláudio Rabeca, Gabriel Melo e Sid3
Iluminação(criação e execução) - Luciana Raposo
Figurino(criação) - Maria Agrelli
Figurino(execução) - Maria Lima
Cenário e design gráfico - Isabella Aragão e Luciana de Mari
Cenário(execução) - Martiniano Almeida
Cenotécnico e operador de som - Almir Negreiros
Produção - Adriana Milet e Carminha Lins
Assistente de produção - Juliana de Almeida
Assessoria de imprensa - Liana Gesteira
Fotógrafo - Breno César
Arte-educadora - Maria Clara Camarotti

http://levediario.blogspot.com/

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Inspirada no espetáculo, Nathalia Queiroz escreveu...

Leve
Foi preciso sentir saudade. Abri-te a janela para ver-te azul cintilante. Fechar os olhos para desenhar-te em pálpebras, teu perfil perfeito. Foi preciso sentir saudade. Ficar distante. Outra cidade. Foi preciso um matar de tempo, qualquer outro canto, outra língua. Um pouco de isolamento e ver-te mais perto ainda. Foi preciso mergulhar outros ares. Apnéia, ares profundos. Desbravar qualquer outra parte, nadar outros mares, outros mares, costurar pele, arrancar vícios, desatar-se, foi preciso um espaço enorme. Foi preciso ensaiar fuga, construir redoma, enfeitar paredes. Foi preciso tecidos e luzes, inventar beleza que sustentasse tua ausência. Foi preciso uma força enorme.Foi preciso uma dor gigante, fazer-se errante, um olhar um tão vago. Qualquer coisa, sem teu abraço. Um canto que não fosse meu. Um jeito que não fosse eu. Um corpo que não fosse tu, para eu fechar meus olhos e desenhar-te em minhas pálpebras, teu perfil perfeito. Foi preciso um estar não estando. E fazendo um fazer não tão fácil. Um andar que nem sempre preciso. Um falar muito mais quando calo. Foi preciso uma força com suspiro de impulso. Uma força enorme. Qualquer outro canto. Outra língua. Um espaço enorme para sonhar-te. Abrir-te janela, ver-te, azul cintilante. Foi preciso ficar distante. Foi preciso fazer-se à parte, para que se fizesse urgente matar saudade.

sábado, 13 de junho de 2009

A leveSa e o peZo


É possível coreografar a ausência? Que movimento corresponde ao silêncio? Como revelar o invisível?

Essas perguntas são respondidas com grande maturidade artística ao longo do espetáculo Leve, concebido e protagonizado pelas bailarinas Renata Muniz e Maria Agrelli.

O espetáculo é um mergulho interior, amparado por uma atmosfera visual e sonora que parece liberar tempo. As bailarinas nos fazem viver o nó da dor e o colo da saudade; o peso da queda e a leveza de voltar a se levantar. Leveza lavada com lágrimas.

Lembro as palavras de Bachelard: "O sonhador se vai à deriva. Um verdadeiro poeta não se satisfaz com essa imaginação evasiva. Cada poeta nos deve, então, seu convite à viagem [...] Uma realidade iluminada por um poeta tem ao menos a novidade de um esclarecimento inédito. Porque o poeta nos revela uma nuance fugidia, aprendemos a imaginar toda nuance como uma mudança. Apenas a imaginação pode ver as nuances, ela lhes alcança na passagem de uma cor a outra" (L'air et les songes)

Maria e Renata são poetas verdadeiras. Elas fazem dançar a imaginação e despertam nossa percepção para o movimento das cores da vida que se desprende do luto e da incompreensão pela dor da perda.

Leve é um espetáculo de dança. Entretanto, o corpo não reivindica para si o papel de instrumento principal. Os movimentos são mínimos, preci(o)sos, e muitas vezes se deixam apagar pela música e pelo cenário: na dança do invisível, o corpo sabe se calar para que fale aquilo que não se traduz em gesto.

O grande feito das artistas é nos fazer sentir na pele a densidade da leveza e o lado etéreo do peso (aprendizado possível apenas com a vivência). Ao sairmos do espetáculo, permanece a clara sensação de termos partilhado a sabedoria de uma humanidade profunda.

Agradeço de coração.

Por Conrado Falbo

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Mais impressões do público...

No domingo, Alessandra Callado foi nos assistir e, ontem, me enviou as seguintes palavras sobre a experiência que vivenciou durante Leve:

"Hoje a morte me assoprou ao ouvido.
Um sussurro frio, baixo, conhecido.
Como se me visitasse,
para lembrar que está sempre por perto.
Perda presente.
Vazio concreto."
(09/06/2009)

(postado por Renata Pimentel)

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Estreamos e...

Após o primeiro final de semana de estreia, com a casa cheia, recebemos os abraços, as lágrimas emocionadas, os parabéns e as palavras da plateia. E começamos, também, a receber as impressões e os sentimentos escritos de alguns dos espectadores. A partir de agora, vamos abrir o espaço para as postagens de alguns que quiserem se manifestar sobre Leve. Iniciamos com as palavras de Renata Amaral, em breve relato:

"Só para dizer que fiquei sem palavras (suprassumo da contradição!) na sexta (Renata foi assistir à estreia mesmo). Muito bonito. Muito mesmo. E muito triste. Nada de leve, viu, 'propaganda enganosa', digo logo. Foi bem pesado. Dá uma angústia, mas que não suprime a beleza. Eu não sei se já tinha visto alguma dança dizer tanto!
Beijos,Renata."

segunda-feira, 1 de junho de 2009


quarta-feira, 20 de maio de 2009


1º de maio - dia de trabalho bem proveitoso.
Neste ensaio apresentemos o espetáculo em processo de finalização.
Quase toda a equipe estava presente...

*até Luquinhas estava lá, lindoo!

da esquerda para direita, de cima para baixo:

1 Maria e Renata
2 com Clara Camarotti
3 com Adriana Milet
4 com Renata Pimentel
5 com Isaar França
6 com Valéria Vicente e luquinhas!

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Sobre a trilha

No começo dos estudos de movimento e corpo da dupla Maria Agrelli e Renata Muniz, me veio imediatamente a sonoridade da dupla violoncelo e rabeca. No sábado chuvoso de Zé Pereira vieram as primeiras melodias registradas no celular. Depois convidei o músico e amigo Lito Viana, com quem trabalho há 04 anos e mostrei o que tinha feito. A função de Lito seria intermediar na comunicação com os outros músicos por conta da minha linguagem musical pouco convencional. Gravamos as músicas com voz e violão num MD e depois passei pra CD para apresentar às meninas que imediatamente fizeram seus comentários. Com esse material, a dupla desenvolveu melhor o espetáculo e definiu tempos e marcações.

A parte da pesquisa se deu por conta das excelências. Os lamentos cantados nos velórios, no sertão nordestino. Fui pedir ajuda a Renato Phaelante, na Fundação Joaquim Nabuco, em Apipucos. Das várias excelências que ouvi, todas são explicitamente católicas e a trilha não deveria conter nada que remetesse diretamente a nenhuma verdade religiosa. Também, as gravações não tinham qualidade para serem reproduzidas na forma original. Mas o sentido de cantar para o morto é que é o mais importante. Daí, ouvi as excelências e criei a partir delas a música de abertura do espetáculo.

Mas ainda faltava uma peça importante para o encerramento da trilha. Deveria ser uma música que tratasse o tema de uma forma leve e positiva. Foi quando ouvi pela primeira vez a música da sergipana Patrícia Polayne “Para o Infinito”. Senti que era exatamente o sentido do espetáculo. Para esta música pensei na banda que me acompanha; Sid3, Gabriel Melo e Lito Viana.

Depois disso eu convoquei os outros músicos João do Cello e Cláudio Rabeca. Assistimos juntos ao ensaio. O violão de Lito, muito presente na primeira gravação, não conseguiu ficar de fora. No momento, estamos nos preparando para a gravação.

Escrito por Isaar França



sexta-feira, 15 de maio de 2009

Estreia de LEVE



Estreia do espetáculo de dança - LEVE

Dia 05 de junho de 2009
Teatro Hermilo Borba Filho
às 20h30
O espetáculo ficará em temporada de sexta a domingo,
nos dias:
05, 06, 07,
12, 13, 14,
27, 28 e 29 de junho de 2009.

preço único R$ 5,00

quinta-feira, 14 de maio de 2009

FIGURINO

A concepção do figurino de LEVE, inicialmente, partiu da pesquisa da indumentária das carpideiras, mulheres que choram e cantam em homenagem ao morto.
Aos poucos, a pesquisa teórica foi ganhando forma, e o figurino foi sendo repensado para se ajustar às novas idéias.
A dúvida era como o figurino poderia dialogar com o espetáculo, somado a elementos de leveza, fluidez, que tivesse movimento - sem prejudicar a movimentação das bailarinas, e que o gênero feminino permanecesse em evidência. Surgiu a idéia de trabalhar desenhos de tubos em cima do corpo humano, usar as marcas já aparentes das veias e ressaltá-las na malha cor de pele, a base do figurino, e nos vestidos.
De maneira sutil, os desenhos e aplicações das “veias” fazem parte do figurino apenas para fazer alusão ao corpo humano, para “brincar” um pouco com a imaginação do público. Os tubos ora são veias, ora são raízes e galhos.

A criação do figurino é de Maria Agrelli, confeccionado por Maria Lima, e teve uma grande e fundamental ajuda de Marcondes Lima, Renata Muniz e Liana Gesteira.

Postado por Maria Agrelli

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Um breve relatório Leve

Se vamos fazer um histórico de como surgiu a ideia primeira do espetáculo, é preciso retornarmos a uma perda real, primeva e muito decisiva: quando partiu a mãe de Maria Agrelli, uma das bailarinas e criadoras de Leve.
Eis que no Reveillon de 2007 para 2008, em conversa com sua amiga e parceira na dança, Renata Muniz, esta revelou a Maria sua não aceitação de tal perda. Um processo criativo, na linguagem que lhes é própria (o corpo e a dança), foi o caminho que escolheram para a purgação de tais sentimentos e experiências que circundam a perda de um ente querido.
Percebendo-se que acompanhar uma agonia de morte é um exercício de desapego, a criação de um espetáculo de dança cuja pesquisa corporal traduz os sentimentos envolvidos nesse processo da morte foi a escolha das bailarinas.
O centro criativo, então, que norteou todo o espetáculo foram os sentimentos que circundam a perda. A partir deles, as bailarinas tentam traduzir – através de laboratórios e exercícios de criação física – no corpo (por meio de metáforas corporais: a cabeça invertida, ou seja, o corpo de ponta-cabeça; as quedas; as náuseas; as buscas e perdas de apoios para os movimentos; os encaizes entre os corpos uma da outra) a morte e apontar para caminhos em que esse processo possa ser vivido (a vida é o contraponto da morte) de forma leve.
O espetáculo busca uma via menos densa, menos agônica, menos violentamente inconformada, apesar de todas essas sensações serem parte do percurso inevitável, tantas vezes, para aqueles que acompanham o desenlace de uma vida rumo a seu término.
Foram feitas pesquisas teóricas em diversas vertentes do saber e sob variadas abordagens: filosófica, cultural (rituais e simbologias), religiosa, histórica, socioantropológica, biológica, médica e estética (poesia e música, sobretudo), não só para se embasar o conhecimento sobre o assunto, mas para se tentarem buscar outros guias, outros caminhos de criação. Vários poemas e músicas foram pontos de partida para os execícios de criação de movimentos. E os sentimentos sempre se reafirmavam como a via possível e autêntica para a criação deste espetáculo.
Entre as leituras, destacou-se a do livro Morte e desenvolvimento humano, de Maria Júlia Kovács; além de alguns filmes, entre os quais destacamos:
Abril despedaçado (sobretudo para a cenografia);
Il y a longtemps que je t’aime;
Invasões bárbaras ;
Do Nascimento à morte (documentário da Superinteressante);
Wit, com Emma Thompson;

Além disso, as reuniões no Gaapac permitiram a troca de experiências com pessoas portadoras de câncer (que experienciam a morte) e parentes e amigos dessas e a imersão na atmosfera de luto e enfrentamento com a iminência possível de falecimento; tanto pela própria vítima da doença, como por aqueles que a cercam. Afinal, de fato, a morte pode nos chegar sem aviso, de surpresa, mas há também um face sua que é a da agonia anunciada (quando de uma doença fatal ou de velhice). Mais uma vez, o trabalho com o Gaapac confirmou que o caminho de criação deste espetáculo era o do sentimento. Cenário, figurino, música, luz e dança: tudo partiu dos sentimentos.
Há que se destacar, ainda, a importantíssima contribuição de alguns membros da equipe de criação que apoiou e contribuiu com as bailarinas Maria Agrelli e Renata Muniz. Uma fundamental participação foi a da preparação corporal a cargo de Liana Gesteira. Lilica, como é chamada pelos membros da equipe de criação, com sua maneira peculiar e generosa de conduzir a preparação corporal – indo além de exercícios de alongamento, aquecimento – para gerar exercícios criativos, soube (de forma lúdica) jogar com as tensões, os temores, as travas que o processo impunha às bailarinas e apontou muitos dos rumos pelos quais o espetáculo enveredou. Eram jogos propostos por Liana que fizeram as bailarinas quebrarem os resíduos e referências de movimentação e dança implantados em seus corpos e impulsionaram-nas a outras sentidos e outra movimentação. Foi, então, o trabalho e a presença de Lilica um fundamental elemento de leveza no processo de criação.
Já a dramaturgista corporal, Valéria Vicente (além de bailarina, pesquisadora teórica e professora em dança) foi o contraponto, o “incômodo” necessário para desafiar, suscitar o debate e gerar as convicções de escolhas e caminhos eleitos pelas bailarinas no processo criativo.
Quanto a outros integrantes do processo de criação, destaque-se ainda a generosidade de Isaar França - e seu imenso talento - em deixar sua criatividade musical, sua voz e seu universo de referências traduzirem os desejos e movimentos de Maria e Renata. Ainda, as cenografistas (Lu de Mari e Isabela Aragão) concorrem para “vestir” o palco e amalgamar a funcionalidade do espaço em diálogo com a dança; o que é completado pela luz de Luciana Raposo, aspectos desenvolvidos em procsesso e que ganham sua vida própria como coadjuvantes em cena.

(postado por Renata Pimentel)

terça-feira, 12 de maio de 2009

um dia minha mãe morreu

Minha primeira postagem aqui no blog vem meio triste, envolta na semana em que completam cinco anos que minha mãe, Tereza Noronha, faleceu de repente. Segue a poesia escrita um ano depois:

Um dia minha mãe morreu
E foi como se ...
...
Uma mãe tivesse morrido

Morreu, assim, intransitivo
Levando peito, ventre, palavra de mãe
Saiu a terra dos meus pés, e o tempo ficou parado
como a imagem do céu azul enquanto o carro anda

lembro da surdez, do filme mudo que passava em tela panorâmica
lembro do calor, que invadiu minha cabeça
como se uma alma tivesse ali se condensado e saído de mim
da minha irmã sem forças nas pernas
do meu irmão tentando raciocinar
essa dor que não se compartilha, nem com os irmãos

Eu não sabia nada
Não havia metáfora, nem pista de como lidar
Havia o choro, como ainda há
E uma leve esperança de sobreviver.


Valéria Vicente

sábado, 9 de maio de 2009

Dizem que o tempo ameniza
Isto é faltar com a verdade
Dor real se fortalece
Como os músculos, com a idade

É um teste no sofrimento
Mas não o debelaria
Se o tempo fosse remédio
Nenhum mal existiria

Emily Dickinson

(postado por Nana)

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Sem amarras

(e assim foi, que um dia escrevi...)

a forma mais simples que me ocorre de expressar:
queria dizer com a maior precisão
sem que a metáfora abrisse mão de sua pessoal polissemia
eu queria
que se fizesse entender de múltiplo jeito
único
o que a falta de ti
em mim faz existir
uma morte devia ser fim
mas quando um se vai
ficam todos os outros
condenados a uma permanência

o que a tua ausência deixou em mim


o que a tua ausência deixou em mim
é a maior e melhor parte do que sou.

herança genética é somente razão

quero mesmo o saber de sentir,
que nem mesmo carece de explicação
apenas constata-se: é!


a forma mais simples que me ocorre de expressar:
é poder torcer a gramática
elastecer regras para caber
nelas o indizível
nelas o que não se pode medir
um diapasão que rompe os metros
um reverso de mim.

sorri de uma dor,
porque no meio há a lembrança
feliz e indecente
do dia em que aprendi:
a cada três passos meus
chegava em ti.

o abraço era a distância maior
entre a gente,
porque meu olho já te dizia:
mesmo quando fores
romperei peito e casca
crostas que nem sei ter
mas permanecerei em ti
que me levas e me deixas
te fazer seguir

(postado por Renata Pimentel)

PRESENÇA

É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas,
teu perfil exato e que, apenas, levemente,
o vento das horas ponha um frêmito em teus cabelos...
É preciso que a tua ausência trescale sutilmente, no ar,
a trevo machucado,as folhas de alecrim desde há muito guardadas
não se sabe por quem nalgum móvel antigo...
Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janela e respirar-te, azul e luminosa, no ar.
É preciso a saudade para eu sentir
como sinto - em mim - a presença misteriosa da vida...
Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevista
que nunca te pareces com o teu retrato...
E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te.

Mário Quintana

Essa vai pra minha duplinha Mary( com licença para usar a expressão da duplinha Lú e Ari).
postado por Renata Muniz

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Poemas de Alberto Caeiro

Heterônimo do poeta modernista português Fernando Pessoa, assim dizem da morte:

Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera
passada.
A realidade não precisa de mim.
Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma.
Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.
Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.
(7-11-1915)

Se, depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,
Não há nada mais simples.
Tem só duas datas – a da minha nascença e a da minha morte.
Entre uma e outra cousa todos os dias são meus.
Sou fácil de definir.
Vi como um danado.
Amei as cousas sem sentimentalidade nenhuma.
Nunca tive um desejo que não pudesse realizar, porque nunca ceguei.
Mesmo ouvir nunca foi para mim senão um acompanhamento de ver.
Compreendi que as cousas são reais e todas diferentes umas das outras;
Compreendi isto com os olhos, nunca com o pensamento.
Compreender isto com o pensamento seria achá-las todas iguais.

(postado por Renata Pimentel)

quarta-feira, 6 de maio de 2009

foto: Júlio Morais



















Parece um Sonho...

"Parece um sonho que ela tenha morrido!"
diziam todos... Sua viva imagem
tinha carne!... E ouvia-se, na aragem,
passar o frêmito do seu vestido...

E era como se ela houvesse partido
e logo fosse regressar da viagem...
- até que em nosso coração dorido
a Dor cravava o seu punhal selvagem!

Mas tua imagem, nosso amor, é agora
menos dos olhos, mais do coração.
Nossa saudade te sorri: não chora...

Mais perto estás de Deus, como um anjo querido.
E ao relembrar-te a gente diz, então:
"Parece um sonho que ela tenha vivido!"

Mário Quintana

sexta-feira, 1 de maio de 2009

os frutos do processo

hoje, em meio ao ensaio, em momento de uma passagem geral corrida do espetáculo em sua forma ainda não lapidada, em processo, com a equipe de criação praticamente toda reunida, sentada em torno das bailarinas (já como se em uma arena), enquanto assistia às bailarinas Maria Agrelli e Renata Muniz interpretando o que está criado para o espetáculo, e ponderando sobre novas decisões e escolhas - também ainda em transformação -, as palavras foram se configurando assim:

mesmo aguardado é
susto
desejo de suster
reverter o irrevogável

ar que não se move
sopro suspenso

procuro a voz
cheiro sinais
que prolonguem
aqui
um além

reverso

onde vivos seguem
dores alento saudade

quem morre
nem sempre
parte

todo dilacerado
em outra parte.

(postado por Renata Pimentel)

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Primeiro laboratório (07/01/2009)

Utilizando metáforas corporais, este foi o primeiro laboratório para o sentimento de perda.

Improvisação de Renata Muniz

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Nova inspiração


"Dói-me a cabeça aos trinta e nove anos.
Não é hábito.
É rarissimamente que ela dói. Ninguém tem culpa.
Meu pai, minha mãe descansaram seus fardos, não existe mais o modo de eles terem seus olhos sobre mim. Mãe, ô mãe, ô pai, meu pai.
Onde estão escondidos?
É dentro de mim que eles estão.
Não fiz mausoléu pra eles, pus os dois no chão.
Nasceu lá, porque quis, um pé de saudade roxa, que abunda nos cemitérios.
Quem plantou foi o vento, a água da chuva.
Quem vai matar é o sol. Passou finados não fui lá, aniversário também não.
Pra quê, se pra chorar qualquer lugar me cabe?
É de tanto lembrá-los que eu não vou.
Ôôôô pai Ôôôô mãe
Dentro de mim eles respondem tenazes e duros
porque o zelo do espírito é sem meiguices:
Ôôôôi fia."

Adélia Prado
(Poema Esquisito)

Postado por Renata Muniz
Foto: Júlio Moraes

terça-feira, 28 de abril de 2009




Ensaio Leve - dia 21 de abril
Foto: Júlio Moraes

sexta-feira, 17 de abril de 2009

A leveza de compartilhar


Ao longo dos últimos cinco meses, em que tenho participado do processo de montagem do espetáculo Leve, acompanhei as angústias e alegrias da concretização da criação artística. A partir do trabalho semanal com as criadoras-interpretes-bailarinas Maria e Renata, compartilhei um pouco desse momento tão instigante que é “criar um espetáculo”. Essa é a primeira experiência das duas, nesse tipo de empreitada, que envolve decisões não apenas do coreografar, ao qual elas já tem familiaridade, mas também o de pensar na obra como um todo, desde o tecido do figurino, a música, até o material de divulgação. Foram muitos questionamentos. Cada dia uma nova decisão a ser tomada. E no meio deste processo já tão intenso, me surpreendi com a disposição das duas em buscar um trabalho corporal experimental, alheio às formas de dançar já estabilizadas em seus corpos. Foram muitos encontros em que a sala de dança foi usada como um território livre de sensações. O corpo se transformou em um campo de investigação de sentimentos, suspiros, imagens. Não que tivesse sido fácil, muitas vezes nada fluido. Mas sempre com muita disposição, mesmo nos momentos em que a paralisia era a única resposta dada pelo corpo. Afinal, se colocar na fronteira entre uma dança pronta e outra ainda se descobrir, as vezes paralisa. E ultrapassar essa barreira é um ato de muita disposição. Do papel de “insistente de criação” que assumi, agradeço tanta disposição. E nessa reta final da montagem deixo meu registro de admiração por essas duas artistas, as quais já conhecia de outras empreitadas artísticas, mas que tive o prazer de reencontrar neste novo momento. E mesmo com tantas dúvidas a respeito da leveza do conteúdo do espetáculo, fica a certeza que esse “compartilhar a criação”, envolvendo tantos artistas novos e de diferentes áreas, é a verdadeira incorporação de Leve.

Liana Gesteira

segunda-feira, 13 de abril de 2009

VIVÊNCIA

“Qualquer tempo é tempo,
A hora mesmo da morte
É hora de nascer.
Nenhum tempo é tempo
Bastante para a ciência
De ver, rever
Tempo, contratempo
Anulam-se, mas o sonho
Resta de viver”

Carlos Drummond de Andrade
-A falta que ama

*No poema de Drummond, encontrei um pouco de Ana, Laíze, Madalena, Edna, Lia, Regina, Nilza, Luciana, Rita... E tantas outras pessoas que encontrei pelo GAAPAC e pelas minhas vivências

Uma das pesquisas para a criação do espetáculo LEVE é a visita ao GAAPAC (grupo de apoio e auto-ajuda para paciente de câncer).
Há um pouco mais de mês, eu (Maria) e a Maca (Renata) estamos indo às reuniões do GAAPAC (segunda pela manhã), para “alimentar” nossa pesquisa. A cada segunda compartilhamos novos depoimentos, lutas, vidas, perdas, conquistas...
Estes encontros estão sendo de grande importância para o espetáculo. Uma experiência maravilhosa e um grande estímulo para a criação. Estar em contato com pessoas que já estão curadas do câncer, outras que ainda estão na luta, familiares que desejam entender e saber como melhor cuidar do doente... Saber o quanto aquelas pessoas lutaram e lutam para enfrentar o medo da morte, o medo do tratamento, nos ajuda e abrem portas para melhor pensar o espetáculo. Apesar de ser difícil ouvir tantos depoimentos duros, quando saímos do GAAPAC, a semana se torna mais produtiva e cheia de novos questionamentos.
Para quem quiser conhecer melhor o GAAPAC, basta acessar o site:

http://www.gaapac.org.br/

LEVE.
Estreia dia 05 de junho de 2009
Teatro Hermilo Borba Filho.
O espetáculo ficará em temporada de sexta a domingo, nos dias:
05, 06, 07
12, 13, 14
27, 28 e 29 de junho de 2009.

(postado por Maria Agrelli)

terça-feira, 10 de março de 2009

reunião em 04/03

Nesse dia, encontraram-se (dos membros da equipe de criação do espetáculo Leve): Valéria Vicente, Maria Agrelli, Renata Pimentel, Isaar França e Luciana Raposo, para que Isaar, responsável pela concepção e gravação da trilha sonora original do espetáculo, mostrasse o seu trabalho em andamento. Foram ouvidas as músicas criadas até aquele momento e discutidas possibilidades sonoras de modificações, ritmos, alternativas de instrumentos para execução das músicas...
Na pesquisa sonora que serve de base e inspiração, algumas referências fundamentais vêm dos cantos das excelências, ou "incelenças" (a incelença é um canto designado à “despedida do morto”, entoado sempre na presença deste nos momentos finais do velório), tão tradicionais no nordeste brasileiro e, também, a poesia de autores como Fernando Pessoa.

(postado por Renata Pimentel)

sábado, 7 de março de 2009

ao longo da vida: morte

Nos séculos XVI e XVII, os teólogos católicos afirmavam que não era importante preparar os que estavam na iminência de morrer para bem aceitarem a morte, mas sim ensinar os vivos a meditarem sobre ela. De nada adiantaria confortar ou esclarecer alguém, às vésperas da morte, se tal pessoa, durante sua vida, não tivesse meditado sobre a morte. Os ensinamentos dos Evangelhos seriam a fonte para tal meditação.
Segundo Philippe Ariès (em "O Homem diante da morte" - Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1982): "o pretexto para uma meditação metafísica sobre a fragilidade da vida (...) a morte é apenas um meio de viver melhor". Ou seja, ao contrário da utópica busca de felicidade, "viver melhor" significa uma renúncia às alegrias ilusórias.
Encontramos em Chiavenato, Júlio José ("A Morte, uma abordagem sociocultural"), que surgiram vários tratados sobre como "viver melhor", nesse sentido de que nos fala Ariès. "Um deles deixava bem claro que a vida determinava uma boa morte e não o arrependimento de última hora: 'Não é razoável nem justo que cometamos tantos pecados durante toda a vida e queiramos apenas um dia ou uma única hora para chorá-los e deles nos arrepender'." (São Paulo, Moderna, 1998: 37)
Ainda nos revela Ariès, no intuito de ilustrar a importância da vida cristã, uma história atribuída a São Luís Gonzaga: este brincava com uma bola e perguntaram-lhe o que faria se soubesse que morreria brevemente. Um monge típico do seu tempo (dos que viveram entre os séculos X ao XIV) diria que se retiraria do mundo e se dedicaria à oração e à penitência, para preparar sua salvação. Já um leigo, prossegue Ariès, diria que entraria para um convento. No entanto, São Luís Gonzaga, um santo do século XVI, apenas declarou que continuaria brincando com a bola: afinal, o importante era a vida vivida."

(postado por Renata Pimentel)

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Equipe de Criação de LEVE

O espetáculo "Leve" nasceu de uma idéia original das bailarinas Maria Agrelli e Renata Muniz, que serão as executantes. Além delas, uma equipe está articulada para, junta, criar:

Concepção, direção, coreografia e intérpretes: Maria Agrelli e Renata Muniz
Assistente de coreografia e "insistente de criação": Liana Gesteira
Pesquisa teórica e diário de criação: Renata Pimentel
Dramaturgia: Valéria Vicente
Preparador corporal: Luiz Roberto da Silva
Trilha sonora original: Isaar França
Iluminação (criação e execução): Luciana Raposo
Figurino (criação): Maria Agrelli
Figurino (execução): Maria Lima
Cenário (criação e execução): Isabella Aragão e Luciana De Mari
Produção: Adriana Milet e Juliana de Almeida
Arte-educadora: Maria Clara Camarotti

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Carta XIII – A MORTE NO TARÔ

E como hoje é uma sexta-feira 13, dia de superstições, lembro-me da Carta 13 do tarô, justamente a Morte...





Um esqueleto armado de uma foice limpa o terreno ao seu redor, no qual aparecem as cabeças (o sol e a lua) e mãos de vítimas. Em geral, esta é a carta do tarô que provoca mais temor, no entanto, sua simbologia não é necessariamente negativa e, em muitos casos, pode trazer mensagens bastante positivas.
Essa representação da morte tem origem na idade média, época em que a morte era tida como figura niveladora, pois ela se apresenta da mesma maneira a todas as pessoas, ceifando a vida de reis, rainhas, bispos, senhores, camponeses e servos sem fazer distinções.
Assim, a morte se tornou o símbolo que evidenciava a inutilidade de toda a riqueza, poder ou vaidade. Por isso, essa carta simboliza a transformação que destrói as coisas para que possam ser reconstruídas depois. É uma transformação inevitável ou mesmo um rejuvenescimento.
Como o nome não está no pé da carta e sim em cima, esse arcano não representa a morte física puramente, mas sim a superação e a transformação para algo novo.
E como as folhas caídas no chão do desenho, nós também temos que derrubar algo de nossas vidas para dar espaço ao novo, assim como fazem as árvores no outono.
A morte é o símbolo de toda transformação imediata e radical e não significa a morte física; no plano mental, anuncia o caráter renovador que transforma tudo por meio do renascimento.
É também o fim necessário de um ciclo, ou a certeza de que algo está para terminar, é chegada a hora de uma transformação de fato, no sentido de uma regeneração espiritual, após o reconhecimento da futilidade da realidade, é a "morte" material. A divindade que aparece representada na carta é Hades.

(postado por Renata Pimentel)

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

"Morte e Vida"

Trecho bastante pertinente de um artigo de João Pereira Coutinho, para o caderno Ilustrada, da Folha de São Paulo, em 25 de novembro de 2008:

"(...)
Admirável. Durante séculos, a civilização soube acomodar a morte entre os vivos, porque uma vida feliz implicava, como Montaigne dizia, aprender a morrer: aprender que a finitude da vida revaloriza a própria vida. Porque só a consciência plena do fim nos permite uma entrega total aos entretantos. Como dizia um conhecido historiador francês, a morte estava no centro da vida como a igreja no centro da vila.
Tudo mudou. Conheço casos de gente que, por questão de princípio, não vai a funerais (exceto, presumo, ao próprio). Hoje, a morte é um embaraço que se intromete entre uma festa de juventude permanente. Mesmo que essa festa tenha prazo: 73 ou 74 anos de saúde boa para homens ou mulheres. O resto é desperdício.
O resto é pó, como o pó que cai sobre o caixão. Olho para a cova, ouço a terra que cai sobre a madeira. Tenho um céu de chumbo sobre mim. Irá chover, não tarda. Mas, antes que os céuas se abram em choro sobre o mundo, dou por mim numa oração íntima em frente ao meu destino. E então peço que me dê a graça e a sabedoria de partir na altura certa.
Meu Deus, faz com que eu morra vivo. Não me dês a eternidade ilusória nem suspendas o meu pobre corpo no limbo dos homens. Ensina-me a morrer, a única forma de eu aprender a viver com a consciência de que todos os dias da minha vida são frágeis e temporários, e, por isso, valiosos. Concede-me essa dádiva, e eu prometo que não irei estragá-la com a ganância própria dos desesperados."

(Sugiro a leitura do artigo completo, aos que o puderem fazer)

(postado por Renata Pimentel)

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Lamento sem Música

LAMENTO SEM MÚSICA
(Edna St. Vincent Millay)
Não estou conformada com o encerramento na terra de corações
apaixonados.
Assim é e será pois sempre foi, em qualquer época passada.
Vão para a sombra, os sábios, os amáveis.
Coroados
Com lírios e louros; mas eu não estou conformada.

O amante, o pensador, na terra com eles você se confundiu.
Na bruta e promíscua poeira, com o corpo dos outros, o seu.
Um fragmento do que você soube, do que você sentiu,
Uma fórmula, uma frase, ficam; mas o melhor se perdeu.

A resposta arguta, o olhar honesto, o riso perfeito
- Perdidos. Foram alimentar as rosas. Elegante, ondulado se
descerra

O canteiro. Fragrante, os canteiros. Eu sei. Mas não aceito.
Mais preciosa era a luz dos seus olhos que todas as rosas da terra.

Para baixo, para baixo, para o túmulo penumbroso,
Vão gentilmente o belo, o terno, o delicado,
Gentilmente o inteligente, o esperto, o valoroso.
Eu sei. Mas não Aceito. E não estou conformada.

(postado por Maria Agrelli)

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

atividades 05 a 12/01

05/01/2009

Determinação dos sentimentos envolvidos com a morte: medo, saudade, raiva, perda, vazio, força, impotência, dor, alívio, angústia, desespero.

06/01/2009

Foram trabalhadas as sensações de perda e vazio e criaram-se células coreográficas. Surgiram metáforas de corpo e movimento para a perda: cabeça para baixo e náusea, além da queda.

07/01/2009

A partir do livro Do jeito delas: vozes femininas de língua inglesa (organização de: Carlos Eduardo Fialho, Sueli Cavendish e Marcia Cavendish Wanderley e tradução de: JorgeWanderley), especificamente, foram “recortadas” frases do poema “Lamento sem música”, de Edna St. Vincent Millay: Pela bailarina Renata Muniz, foi destacado o verso “Eu sei. Eu não aceito. E não estou conformada” (relacionado à raiva) e pela bailarina Maria Agrelli o verso “Foram alimentar as rosas” (relacionado a saudade, generosidade e amor).

08/01/2009

Foram trabalhadas a náusea (da perda), com movimentos circulatórios e a queda (também relacionada à perda) com movimentos de saída do eixo de equilíbrio.

09/01/2009

Intenso trabalho corporal com as quedas (noção de perda). Trabalho em dupla, por meio de manipulação de partes do corpo. Sensação de abandono.
A partir desse exercício surgiu uma movimentação de quedas pela perda da força.

12/01/2009

Exercício em dupla.

(postado por Renata Pimentel)

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Ode XI

Levarás contigo
Meus olhos tão velhos?
Ah, deixa-os comigo.
De que te servirão?

Levarás contigo
Minha boca e ouvidos?
Ah, deixa-os comigo
Degustei, ouvi
Tudo o que conheces
Coisas tão antigas.

Levarás contigo
Meu exato nariz?
Ah, deixa-o comigo
Aspirou, torceu-se
Insignificante, mas meu.

E minha voz e cantiga?
Meu verso, meu dom
De poesia, sortilégio, vida?
Ah, leva-os contigo.
Por mim.

(Hilda Hilst, Da morte, odes mínimas. São Paulo: Globo, 2003, p.39)

Pelos olhos de Hilda, a morte tem tantos nomes, insuspeitos. É inquieta fonte de versos que enternecem, doem, assustam pela força, pelo lírismo, pelas imagens. Inusitadas, tantas vezes.
Na "barganha" com a morte, em diálogo, a voz poética alude a tudo de si (corpo físico) que a morte levará, quando se instaurar naquela matéria humana: olhos, boca e ouvidos, nariz... nos quais guarda o homem as lembranças pelas sensações, imagens, cheiros, sons; as coisas tão antigas que a morte tão bem já conhece. Mas o dom da poesia, a voz e a cantiga, os versos e sortilégios, a própria vida, "por mim", ou seja, pela própria poeta, é pedido que sejam esses os "troféus" que leve consigo a morte, pois assim o poeta permanece... Será? Um caminho possível de leitura.

(postado por Renata Pimentel)

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Morte - José de Anchieta Corrêa

"Só quando a morte leva alguém que amamos é que somos submersos pela violência da perda e mergulhados nas trevas da dor e da tristeza. A morte do outro - próximo ou amado - acorda em nós o horror desse absurdo, desse indizível, e então nos imerge na dor e nos cobre de luto.

Por essas vias, o real da morte é, por obrigação, por toda parte encoberto e velado. Os atingidos diretamente pelo drama logo são obrigados a se ocupar com tarefas burocrático-administrativas e a cumprir ritos e regras que acabam por lhes diatrair da presença do corpo que não mais responde às perguntas que lhe são dirigidas. Diante desse corpo rígido e frio, no caixão cercado de velas, é preciso contenção e recolhimento. Não bastasse esse doloroso exercício, é também necessário dar atenção a tantas mãos que tocam os que velam o defunto e dar ouvido a votos protocolares de consolo. Se a vista se estende mais longe, o que se vê é o burburinho dos amigos e conhecidos presentes em uma animada tagarelice, estratagema que livra os vivos de se converterem à cena da morte ali presente.

Na volta para casa, na solidão, poder-se-á então chorar a perda do ente que se foi. Mesmo assim, é de bom-tom fazê-lo discretamente, pois não se deve incomodar os amigos e os vizinhos. E a vida continua. Esse ocultamento ou recalcamento pessoal e social da morte cobra um preço extremamente elevado para os homens de nosso tempo, impedindo-os de desvelar as paixões profundas que emergem desse inusitado e universal acontecimento. Daí, para muitos resultam sintomas de neurose, manifestação de desespero e mesmo sentimentos de violência contra a vida. Para outros, a saída é recorrer e se abrigar no mundo dos mitos e da magia.

Sendo o homem sempre surpreendido pela morte, ela acontece quando menos se espera. Esta aparente e estranha circunstância faz dela o 'hóspede inquietante de todas as festas da vida', razão pela qual importa menos conhecer seu caráter inelutável e fatal do que compreender seu laço com a vida, descobrindo que nossas concepções de vida e de morte se intercambiam e nos convidam a conhecer simultaneamente a morte para o homem e o homem para a morte."
(CORRÊA, José de Anchieta. Morte. São Paulo: Globo, 2008. pp 18-20.)

(postado por Renata Pimentel)

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Preparação para a morte

Ou, e por falar em Manuel Bandeira... Alguns de seus versos:


Manuel Bandeira : Preparação para a morte

A vida é um milagre.
Cada flor,
Com sua forma, sua cor, seu aroma,
Cada flor é um milagre.
Cada pássaro,
Com sua plumagem, seu vôo, seu canto,
Cada pássaro é um milagre.
O espaço, infinito,
O espaço é um milagre.
A memória é um milagre.
A consciência é um milagre.
Tudo é milagre.
Tudo, menos a morte.
– Bendita a morte, que é o fim de todos os milagres.

(postado por Renata Pimentel)

Nascendo "Leve" para a morte

- Vim dar-te uma notícia... Como fazê-lo?
(Qual o eufemismo, qual a metáfora que poderia suavizar a comunicação a alguém que aqui resta vivente de que um ente querido não mais estará acessível, sob a forma de contato que conhecemos, em vida?)
- Digo-te que teu pai, mãe, irmã(o), parente, consorte, amigo(a) se foi... Não está mais entre nós... Partiu... Descansou... Está em melhor lugar que nós agora... Está em paz...

Não te grito ou escando as sílabas, simplesmente, declarando: MOR-REU! Os véus que encobrem algo do qual não podemos escapar, que é lidar com a morte, parece ser o disfarce do gato, escondendo-se e sempre deixando a ponta da cauda visível. Inescapável experiência que a todos nós cabe em um dado momento: a morte. Como lidar com ela: a "iniludível", a "indesejada das gentes", no dizer de Manuel Bandeira. O poeta que viveu, ele mesmo, 82 anos sob a égide de uma suposta iminente morte precoce, apenas concretizada várias décadas depois da ameaça fatal.

Apenas quem perdeu de si um ente querido saberá o que é a experiência da morte? Se ao nascermos, já começamos nosso percurso em direção a ela, em verdade, a morte é uma nossa companheira durante toda a vida: duplos de uma mesma moeda

E como dançar a morte? Como fazer o corpo mover-se, invocando o que em si marcou a perda, a dor, a saudade, o medo, o vazio, a raiva, a impotência, a angústia, o desespero, ou mesmo o alívio e a força que confluem, alternam-se, mesclam-se no enfrentamento do morrer?

É desse rio caudaloso de experiências que nasce o desejo, a pulsão, a concepção e o material de pesquisa do espetáculo "Leve".

(postado por Renata Pimentel)