sexta-feira, 17 de abril de 2009

A leveza de compartilhar


Ao longo dos últimos cinco meses, em que tenho participado do processo de montagem do espetáculo Leve, acompanhei as angústias e alegrias da concretização da criação artística. A partir do trabalho semanal com as criadoras-interpretes-bailarinas Maria e Renata, compartilhei um pouco desse momento tão instigante que é “criar um espetáculo”. Essa é a primeira experiência das duas, nesse tipo de empreitada, que envolve decisões não apenas do coreografar, ao qual elas já tem familiaridade, mas também o de pensar na obra como um todo, desde o tecido do figurino, a música, até o material de divulgação. Foram muitos questionamentos. Cada dia uma nova decisão a ser tomada. E no meio deste processo já tão intenso, me surpreendi com a disposição das duas em buscar um trabalho corporal experimental, alheio às formas de dançar já estabilizadas em seus corpos. Foram muitos encontros em que a sala de dança foi usada como um território livre de sensações. O corpo se transformou em um campo de investigação de sentimentos, suspiros, imagens. Não que tivesse sido fácil, muitas vezes nada fluido. Mas sempre com muita disposição, mesmo nos momentos em que a paralisia era a única resposta dada pelo corpo. Afinal, se colocar na fronteira entre uma dança pronta e outra ainda se descobrir, as vezes paralisa. E ultrapassar essa barreira é um ato de muita disposição. Do papel de “insistente de criação” que assumi, agradeço tanta disposição. E nessa reta final da montagem deixo meu registro de admiração por essas duas artistas, as quais já conhecia de outras empreitadas artísticas, mas que tive o prazer de reencontrar neste novo momento. E mesmo com tantas dúvidas a respeito da leveza do conteúdo do espetáculo, fica a certeza que esse “compartilhar a criação”, envolvendo tantos artistas novos e de diferentes áreas, é a verdadeira incorporação de Leve.

Liana Gesteira

2 comentários:

  1. Liana (lilica) é nosso anjo da guarda!
    cuida, apoia, incentiva, dá baile, acredita...
    não sei o que seria de maria e renata sem essa pessoinha linda!

    Maria

    ResponderExcluir
  2. Como podem ver, até hoje revisito essa página. Vi o espetáculo, sei lá, acho que em 2009, sentada no chão do Hermilo, aqueles véus esvoaçantes, aquela música (...) e sem dúvida, os movimentos e tudo que os envolve foram das coisas mais lindas, sutis e cortantes que já vivenciei na vida. Nunca saíram da minha mente, assim como um texto depois aqui postado por alguém que com certeza sentiu o mesmo que eu. Agradeço a vocês, meninas, e a Lili, que por qualquer razão me levou até ali. Foi a representação dos melindres da morte - qualquer ela - mais LEVE que pode existir. Sou muito grata.
    Mari Moreira

    ResponderExcluir