sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Nascendo "Leve" para a morte

- Vim dar-te uma notícia... Como fazê-lo?
(Qual o eufemismo, qual a metáfora que poderia suavizar a comunicação a alguém que aqui resta vivente de que um ente querido não mais estará acessível, sob a forma de contato que conhecemos, em vida?)
- Digo-te que teu pai, mãe, irmã(o), parente, consorte, amigo(a) se foi... Não está mais entre nós... Partiu... Descansou... Está em melhor lugar que nós agora... Está em paz...

Não te grito ou escando as sílabas, simplesmente, declarando: MOR-REU! Os véus que encobrem algo do qual não podemos escapar, que é lidar com a morte, parece ser o disfarce do gato, escondendo-se e sempre deixando a ponta da cauda visível. Inescapável experiência que a todos nós cabe em um dado momento: a morte. Como lidar com ela: a "iniludível", a "indesejada das gentes", no dizer de Manuel Bandeira. O poeta que viveu, ele mesmo, 82 anos sob a égide de uma suposta iminente morte precoce, apenas concretizada várias décadas depois da ameaça fatal.

Apenas quem perdeu de si um ente querido saberá o que é a experiência da morte? Se ao nascermos, já começamos nosso percurso em direção a ela, em verdade, a morte é uma nossa companheira durante toda a vida: duplos de uma mesma moeda

E como dançar a morte? Como fazer o corpo mover-se, invocando o que em si marcou a perda, a dor, a saudade, o medo, o vazio, a raiva, a impotência, a angústia, o desespero, ou mesmo o alívio e a força que confluem, alternam-se, mesclam-se no enfrentamento do morrer?

É desse rio caudaloso de experiências que nasce o desejo, a pulsão, a concepção e o material de pesquisa do espetáculo "Leve".

(postado por Renata Pimentel)

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